Como ajudar as crianças a entenderem o conceito de compartilhar
Uma das primeiras lições sociais que as crianças enfrentam é aprender a compartilhar. Seja um brinquedo favorito, um lanche ou o tempo com os pais, a ideia de compartilhar pode ser desafiadora emocionalmente para as crianças pequenas — e isso é completamente normal.
Como pais, podemos guiar esse processo com paciência, consistência e uma compreensão profunda do desenvolvimento infantil.
Por que compartilhar é difícil para as crianças?
Para os adultos, compartilhar parece um ato simples de bondade. Mas para as crianças, especialmente as com menos de 6 anos, a posse está ligada à segurança e à identidade. Abrir mão de um brinquedo, mesmo que temporariamente, pode parecer como perder uma parte de si mesmas.
Entender que essa reação é normal no desenvolvimento nos ajuda a estar mais alinhados com o que a criança está vivendo, e não com as expectativas que temos sobre ela.
Comece com a observação, não com correções
Quando uma criança resiste a compartilhar, é tentador intervir com uma correção imediata:
- “Você tem que compartilhar!”
- “Não seja egoísta.”
Mas isso pode gerar vergonha e confusão.
Ao invés disso, observe e nomeie gentilmente o que está acontecendo:
- “Você realmente ama esse caminhão, e está difícil deixar outra pessoa brincar com ele.”
- “Eu vejo que você ainda não está pronto para dividir isso.”
Isso mostra para a criança que você vê e entende seus sentimentos, o que é a base para ensinar a mudança de comportamento.
Crie um ambiente de compartilhamento em casa
As crianças precisam de oportunidades sem pressão para praticar o compartilhamento antes que isso seja esperado em ambientes sociais.
Experimente:
- Revezar brinquedos: “Eu vou rolar a bola para você, e depois você rola de volta para mim.”
- Cozinhar juntos: “Eu mexo a massa, e depois é sua vez.”
- Jogos com regras claras de turnos, como quebra-cabeças ou memória.
Esses momentos ensinam paciência, justiça e a alegria da cooperação.
Use uma linguagem positiva e seja um modelo
Em vez de simplesmente mandar a criança compartilhar, seja um modelo constante:
- “Estou compartilhando meu lanche com você porque me importo com você.”
- “O papai e eu estamos revezando o controle da TV.”
Além disso, elogie momentos específicos de compartilhamento:
- “Foi gentil da sua parte dar uma vez ao seu amigo.”
- “Você esperou pacientemente e depois compartilhou seu brinquedo. Isso é o que bons amigos fazem!”
Isso cria uma motivação interna, ao invés de simplesmente gerar obediência por medo de punição.
Apresente a ideia de “revezar”
Para crianças muito pequenas, o conceito de “compartilhar” pode ser abstrato demais. Muitas vezes, é mais eficaz introduzir a ideia de “revezar” primeiro. Revezar oferece estrutura:
- “Você pode brincar com a boneca por 5 minutos, e depois será a vez da sua prima.”
Usar um cronômetro ou uma contagem visual pode ajudar a criança a antecipar e se sentir no controle da transição.
Respeite a posse e o espaço pessoal
Alguns brinquedos são muito especiais para serem compartilhados, e tudo bem. As crianças merecem ter alguns itens “seguros” que não precisam dividir.
Ensine seu filho:
- “Este é o seu brinquedo especial. Você não precisa compartilhá-lo hoje.”
- “Vamos guardá-lo se você não quiser que outros brinquem com ele.”
Isso previne disputas de poder e reforça o respeito pelos limites — tanto os dela quanto os dos outros.
Use histórias e dramatizações
Livros e histórias podem ser ferramentas poderosas para normalizar o compartilhamento. Escolha histórias onde os personagens enfrentam dificuldades com o compartilhamento, mas acabam desfrutando dessa experiência. Depois, encene cenários semelhantes com animais de pelúcia ou fantoches:
- “O Teddy não quer compartilhar os lápis de cor. O que podemos dizer para ajudá-lo?”
- “O que você faria se seu amigo não quisesse compartilhar?”
Essas recriações lúdicas tornam as lições mais memoráveis.
Mantenha a calma durante os conflitos
Mesmo com toda a preparação, as brigas por brinquedos vão acontecer. Quando isso ocorrer:
- Mantenha-se neutro. Não tome partido.
- Separe as crianças, se necessário, e converse individualmente com cada uma.
- Reafirme os limites: “Não posso deixar você pegar os brinquedos dos outros.”
Reensine depois que o momento passar: “Da próxima vez, você pode dizer: ‘Posso ter minha vez?’”
As crianças precisam de tempo, repetição e orientação para aprender a regular as emoções.
Incentive a empatia
Quando seu filho começar a entender as emoções, você pode começar a construir a empatia:
- “Como você acha que seu amigo se sentiu quando você não deixou ele brincar?”
- “Como você se sente quando alguém compartilha com você?”
A empatia ajuda as crianças a se conectarem emocionalmente com a experiência dos outros, o que faz o compartilhamento parecer mais significativo e menos como um sacrifício.
Pensamento final: é uma jornada, não uma lição única
O compartilhamento é um comportamento aprendido, não uma característica fixa. Ele exige prática, paciência e maturidade — e evolui à medida que a criança cresce.
Em vez de simplesmente exigir que compartilhem, crie um ambiente onde a bondade, a empatia e a justiça sejam modeladas e celebradas. Com o tempo, seu filho começará a compartilhar não apenas porque precisa — mas porque quer.